Bukassa Kabengele se destaca em ‘Amor Perfeito’ e também no cinema

Com uma fusão de influências africanas e brasileiras, o ator fala sobre sua história.

Nascido na capital belga, Bruxelas, Bukassa Kabengele cresceu em um ambiente que combinava influências congolesas da República Democrática do Congo, na África, onde sua família tem raízes. Aos 10 anos de idade, ele estabeleceu sua residência no Brasil, tornando-se verdadeiramente um cidadão global. Com uma vasta bagagem de experiências pessoais, profissionais e reconhecimentos, o artista, que acumula mais de três décadas de carreira como ator, cantor, guitarrista e compositor, está celebrando tanto as mudanças quanto o aumento da representatividade no campo audiovisual. Atualmente, ele está presente na tela da TV com a série “Amor Perfeito” da Rede Globo e também faz parte do elenco do filme “Um Ano Inesquecível – Outono”, disponível no Amazon Prime Video, experienciando um cenário de oportunidades em expansão.

No enredo, você interpreta o personagem Sílvio, que é um promotor. Juliana Alves desempenha o papel de Wanda, sua esposa, que é uma empresária. Por que é significativo apresentar indivíduos negros de sucesso na televisão?

Isso é de extrema importância. Isso oferece às mídias e aos meios de comunicação em massa a chance de desfazer as representações negativas historicamente associadas aos negros na televisão, bem como de superar anos de invisibilidade, marginalização de suas vozes, corpos e culturas. O objetivo é redefinir o papel dos indivíduos negros na sociedade brasileira, que por muito tempo foi retratado de maneira negativa. A televisão, em geral, deixou de mostrar negros em posições de poder, com sucesso financeiro, famílias diversificadas e felizes dentro de sua identidade negra. Para combater esses estereótipos profundamente arraigados, são necessárias novas narrativas inclusivas e antirracistas. É crucial demonstrar que pessoas negras podem ocupar qualquer posição na sociedade que lhes confira dignidade e o protagonismo que merecem.

Qual é a sua perspectiva sobre essa transformação no campo audiovisual que finalmente reconhece a importância do protagonismo negro, oferecendo papéis destacados nas narrativas?

Isso faz parte da trajetória de correção e reparação de uma estrutura que historicamente não distribuiu de maneira equitativa oportunidades de visibilidade para profissionais negros. Esse desequilíbrio afeta diretamente a representatividade e as referências para o público, além de impactar na maneira como o público consome produtos de entretenimento e informação através das mídias e do audiovisual. Essas conquistas não são concessões feitas pelos brancos; eu as enxergo como resultados das lutas travadas por diversos setores do movimento negro ao longo de anos para ocupar esses espaços.

Isso é apenas o começo…

Precisamos avançar ainda mais. A televisão deve ser mais inclusiva em termos éticos. Hoje em dia, a desculpa de que não há profissionais negros qualificados o suficiente para atender às demandas do mercado não é mais aceitável. A riqueza da diversidade nas telas reflete a realidade brasileira. Quando explorada adequadamente, essa diversidade atrai audiência, gera receita e cria identificação com o público. No entanto, é essencial termos uma representatividade mais ampla em todos os setores e posições possíveis. Isso significa que precisamos de mais indivíduos negros ocupando cargos de direção, escrita, roteiro, fotografia, produção executiva, entre outros.

Durante um longo período, era raro ver essa representação. Isso afetava sua motivação?

Na minha formação e na minha perspectiva do mundo, desistir nunca foi uma escolha. Afinal, seria como permitir que uma estrutura racista decidisse nossos próprios sonhos. Falo isso porque, ao longo dos anos de conquistas, senti que as dificuldades também passavam por esse aspecto. Tenho certeza de que, com minhas habilidades e conhecimentos, se eu fosse branco, as oportunidades teriam sido mais acessíveis. Houve momentos de desânimo e lamento, mas jamais considerei abandonar minha profissão.

Seu nascimento ocorreu em Bruxelas, o crescimento se deu no Congo, e agora você reside no Brasil. É verdadeiramente um cidadão global!

Exatamente, pode-se afirmar dessa forma. Eu absorvi uma variedade de influências para me tornar a pessoa que está dialogando com você. Além disso, minha carreira artística também me permitiu viajar pelo mundo. Durante o período em que trabalhei com Marisa Monte e Elba Ramalho, tive a oportunidade de pisar em palcos europeus, bem como em países como Japão, Estados Unidos, Porto Rico e até Cabo Verde, na África. Em 2005, com um projeto musical do meu álbum “Mutoto”, passei três meses em Paris, promovendo esse trabalho com uma grande gravadora. Olhando para trás, posso afirmar que a vida me trouxe para o Brasil, onde encontrei realizações, crescimento como adolescente e como adulto. Meu lar é aqui, e meus sonhos foram construídos neste solo, mas carrego dentro de mim todas as influências e trajetórias que percorri pelo mundo, com destaque para as lembranças da minha infância vivida na República Democrática do Congo.

Como você define a pessoa Bukassa como pai, marido, filho e irmão?

Sou o irmão mais velho de cinco irmãos, e nossa relação é muito boa. Minha família é uma referência sólida e a base que orienta minhas batalhas. Cada passo que dou é pensando na minha filha, minha esposa, assim como em meus irmãos e parentes. Tenho um forte vínculo com meu pai, Kabengele Munanga, que é uma influência significativa em minha vida. Minha mãe, Yombo Masanga, infelizmente faleceu quando cheguei ao Brasil. Minha madrasta e segunda mãe, Irene, nos ofereceu muito amor, o que me faz sentir pleno. Minha esposa, Vera, é uma pessoa extraordinária. Tenho a sorte de compartilhar a vida com ela e juntos criamos nossa filha, Mwanza. O casamento é uma decisão que requer maturidade, responsabilidade e respeito, além do amor. Nós nos apoiamos mutuamente nas lutas da vida. Claro, enfrentamos desafios como qualquer casal, mas seguimos unidos e felizes com nossa jornada até hoje. Sou um pai coruja e amo muito minha filha. Ela não apenas me enche de orgulho, mas também me dá uma sensação de felicidade e o privilégio de ser seu pai. Cometo erros como qualquer pessoa, mas busco me aperfeiçoar a cada dia. E, o mais importante, o amor em nosso lar é algo que nunca falta.