Cantor Digão causa polêmica ao associar morte de Juliana à política

A morte trágica de Juliana Marins, brasileira que fazia mochilão pela Ásia, virou assunto não só pela comoção causada, mas também pela polêmica gerada por Digão, vocalista e guitarrista da banda Raimundos. O músico causou um verdadeiro rebuliço nas redes sociais ao fazer uma publicação que ligava a morte da jovem a posicionamentos políticos — e o tiro acabou saindo pela culatra.

Juliana estava na Indonésia, mais precisamente na ilha de Lombok, quando sofreu um acidente fatal durante uma trilha até o Monte Rinjani, um dos vulcões mais famosos da região. Ela viajava acompanhada de um grupo de turistas e guiada por um profissional contratado por meio de uma agência local. Durante a subida, segundo relatos do guia Ali Musthofa e funcionários do parque, Juliana se sentiu cansada e pediu pra descansar um pouco. O grupo, no entanto, continuou, deixando a jovem pra trás — sozinha numa trilha complicada e com riscos evidentes.

Foi nesse momento que a tragédia aconteceu: Juliana escorregou e caiu de um penhasco, despencando cerca de 300 metros. Ela ainda teria ficado viva por algumas horas (ou dias, segundo algumas fontes) antes de ser encontrada já sem vida por equipes de resgate. A busca, inclusive, demorou dias, o que levou muitos brasileiros a questionarem a atuação das autoridades locais e até a suposta negligência da empresa responsável pela excursão.

No entanto, em vez de solidariedade ou respeito ao luto, Digão resolveu polemizar. Neste último domingo (29), ele compartilhou nos stories do Instagram uma imagem da mochila da vítima, que tinha botons com o conhecido lema “Ele Não” — expressão usada por eleitores contrários ao ex-presidente Jair Bolsonaro desde 2018. Na legenda, Digão escreveu:

“Quando o mundo dá a volta, não adianta chorar e fingir surpresa… #ELESIM mandou o f…-se pra vocês.”

A publicação foi recebida como um golpe baixo e de péssimo gosto. Muita gente acusou o músico de desrespeitar a dor da família e usar a morte da jovem para fins políticos. Em poucas horas, o assunto viralizou no X (antigo Twitter), onde internautas se dividiram entre indignação e perplexidade.

Vale lembrar que, nos últimos tempos, Digão tem assumido uma postura cada vez mais crítica contra a esquerda e vem demonstrando simpatia pelo ex-presidente Bolsonaro. Não é a primeira vez que ele se envolve em treta política nas redes — mas, dessa vez, o buraco parece ser mais embaixo.

Muitos usuários afirmaram que a fala de Digão foi insensível, desnecessária e oportunista. Até pessoas que costumam apoiar o músico se mostraram desconfortáveis com a forma como ele tratou uma tragédia pessoal e nacional. “Independente de ideologia, respeito à vida e à dor dos outros vem em primeiro lugar”, disse um internauta.

Já outros defenderam o direito de Digão se expressar, ainda que de forma controversa. “Ele tá só mostrando o que pensa. Não é obrigado a concordar com ninguém”, comentou um seguidor. Mas a maioria achou que ele passou dos limites.

Enquanto isso, o corpo de Juliana foi finalmente repatriado ao Brasil, e familiares se despedem da jovem em meio a uma dor irreparável. Um luto real, que vai muito além de qualquer discussão política ou curtida em rede social.

No fim das contas, o que fica é o peso da perda e a reflexão sobre os limites da liberdade de expressão, especialmente quando a vida de uma pessoa — e de toda uma família — está em jogo.