John Lennon, um ícone da música e uma peça fundamental na cultura popular e divisores de água dentro do mundo da música. O artista dividiu uma narrativa para lá de extraordinária contanto um pouco de sua experiência além da vida. Em uma noite incomum do ano XX, o artista saiu do estúdio após uma emocionante sessão de gravação do álbum “Double Fantasy”. Ao caminhar em direção ao Dakota, sua vida foi ceifada por disparos. O que se seguiu foi uma jornada além da mortalidade, uma experiência póstuma que Lennon descreveu de maneira cativante.
O ícone da música brasileira começou sua narrativa dando destaque a sensação persistente de mudança que o acompanhava nos dias que antecederam o incidente. O álbum “Double Fantasy” representava um renascimento para ele, marcando seu retorno ao cenário musical após um período dedicado à vida familiar. No entanto, a empolgação por essa nova fase foi obscurecida por uma inquietação crescente, que o acompanhou até a fatídica noite.
Ao narrar com emoção os momentos após os tiros, Lennon nos dá a oportunidade de por uma experiência que ultrapassa os limites da vida física. Ele nos faz enxergar a transição de seu corpo físico para um estado espiritual, onde suas emoções, pensamentos e sensações se tornaram intensamente vívidos. Flutuando acima do cenário do trágico incidente, ele testemunhou a angústia de sua esposa Yoko, desesperada por ajuda diante da cena sangrenta.
Confira a carta psicografada abaixo:
Lennon
Sabe quando, às vezes, você sente que algo está errado mas resolve ignorar? É assim que eu me senti naquela noite quando saí da lumusine e caminhei na direção do Dakota. (1)
Há vários dias eu vinha sentindo uma incrível sensação de mudança. A princípio, pensei que podia ser toda aquela coisa de “começar de novo”. Para mim, o álbum Double Fantasy sob muitos aspectos era realmente um novo começo.
Pela primeira vez desde que Sean nascera, eu me arriscava a deixar o cenário doméstico. Estava novamente no “mundo real” – traçando novos caminhos e dando entrevistas. Era empolgante!
Adorei estar de volta ao estúdio com Yoko; era ótimo acordar de manhã com novas músicas na cabeça. Não havia nada que não podíamos fazer… ou assim eu pensava.
Naquela tarde, na hora do almoço, estávamos comentando sobre o aumento da violência na cidade. Eu detestava ver aquilo acontecendo – só iria reforçar a falta de confiança já existente entre as pessoas.
À noite, no estúdio, tivemos uma fantástica sessão; mas aquela incômoda sensação de mudança estava começando a me chatear. Meus pensamentos não paravam de vagar na direção de Sean. Eu até insisti para que voltássemos direto para casa quando terminássemos de tocar, em vez de sair para comer com os outros.
Enquanto caminhava para o Dakota, o ar frio e úmido castigava meu rosto; minha única vontade era estar lá dentro com Yoko e Sean.
Então ouvi uma voz: “Sr. Lennon.”
Eu mal havia me virado quando a primeira bala explodiu em meu peito – depois a segunda, a terceira… e eu sabia o que estava acontecendo.
As luzes ao redor ficaram mais brilhantes. Minha mente gritou: “Yoko! Eles têm que salvar Yoko!” Então fui dominado por uma dor incrível no peito, por ondas de intenso calor e náusea.
Meu corpo cambaleou pela escada acima e para o interior do edifício; deve ter sido puro reflexo físico. Em minha cabeça comecei a dizer: “Aqui dentro é seguro… aqui dentro é seguro”… repetidas vezes, até que cai no chão.
Caindo…
caindo….
caindo….
Era como se eu caísse por toda a eternidade – então fiquei imóvel… mas só por um instante. Meu corpo espiritual vibrava tão intensamente que não podia ser contido; e, como em outras oportunidades em minha vida, eu estava de pé e fora do corpo – o corpo físico, bem estendido.
Enquanto flutuava perto do teto, pude ver um homem deitado no chão numa poça de sangue. Era eu. Yoko gritava por um médico – nunca a tinha visto tão desesperada. Tentei me comunicar para consolá-la de alguma forma, mas ela estava totalmente fechada, tentando negar a realidade diante de si.
Com a força que me restava concentrei-me num sincero apelo ao porteiro, que estava ajoelhado ao lado de meu corpo: “Ajude Yoko!”
Senti uma força indescritível puxando meu corpo espiritual. Meu Deus, eu queria ficar lá e ajudar Yoko! Mas não podia fazer nada. A força era cada vez mais forte…
Então o brilho na sala estabilizou-se, e eu senti uma profunda sensação de paz. Quando percebi o desprendimento de meu corpo físico, eu sabia que estava morto.
Uma poderosa onda de luz encheu a sala, e o mundo que eu tinha conhecido desapareceu. Eu estava sendo arrebatado através de um “túnel” tão brilhante como o próprio sol. Já havia lido sobre um túnel de luz em experiências de outras pessoas, mas era difícil acreditar que aquilo estava acontecendo comigo.
À medida que minha velocidade aumentava, as feridas dos tiros pareciam cristalizar-se; como pepitas de alguma substância dura presa dentro de uma textura mais delicada. Fiquei surpreso por ainda senti-las, mesmo depois de ter deixado meu corpo bem longe.
Ondas de música me atravessavam – era a sinfonia mais linda que já ouvira. Que viagem! A música continuava a passar – cada vez mais rápido- até que culminou em um grande crescendo. Eu estava em êxtase!
De repente, tudo passou. Eu sabia que estava fora do túnel, mas só podia ver luz.
Senti alguém perto de mim. Talvez fosse um anjo… ou…
Então ouvi meu nome: “John.”
Aquela voz abalou minha alma. Era minha mãe! Julia! Nunca pensei que a ouviria novamente. “Estou tão contente em vê-lo!”
Ela tomou-me em seus braços. Abraçou-me. Beijou-me. Eu estava transbordando de alegria! Olhei bem em seus olhos. Realmente era ela… Julia!
Parecia tão feliz, tão tranquila. Seu corpo era mais sólido do que o meu, e mais radiante. Será que o meu mudaria com o tempo? Ainda existia algo como o tempo?
Era tudo tão diferente do que eu tinha imaginado. Mas que alívio descobrir que alguém vem ao nosso encontro quando morremos. E que ótimo ter sido minha mãe – eu tinha sentido tanta falta dela.
“Obrigado por ter vindo, Mamãe. Estou muito contente que esteja aqui.”
“Oh, John, tenho estado com você todos os dias durante anos – se ao menos soubesse. Agora quero ser a mãe que não pude ser lá na Terra.” (2)
Todo o meu corpo estremeceu com memórias dolorosas da infância. Quando eu era pequeno, mamãe me segurava durante os ataques aéreos, e eu costumava rezar para Deus pedindo que, se as bombas me atingissem, Ele me fizesse chegar a salvo no Céu segurando a mão de mamãe.
Os tiros… tinham soado como bombas. E ali estava Julia. Aquilo seria o céu?
Meus pensamentos voaram para Yoko e Sean. o que eles iriam fazer? Eu nem disse adeus.
Então um vento fresco veio acariciar e me acalmar; ele me carregou de volta à Terra.
Pude ver o rosto dos dois. A princípio pareciam normais, mas suas expressões foram mudando à medida em que eram cobertas por camadas de angústias e aflição. O que iriam fazer agora? Meu corpo encheu-se de dor. Meu Deus, eu os amava! Éramos realmente uma família. Sean e eu estávamos tão ligados – e Julian… Comecei a perder o controle.
Mamãe pôs a mão em meu ombro, e eu estava de volta ao seu lado. Seu amor – e alguma coisa que havia na luz ao nosso redor – fez que eu me sentisse mais forte.
“John, seu maior trabalho ainda está por vir. Mas primeiro, toda essa dor deve ser dominada; é´preciso que você esteja completamente curado e em paz.”
