“Ainda Estou Aqui”: por que Veroca é a única que não sorri na foto?

No filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, há uma cena marcante em que Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres) e seus filhos são fotografados em frente à porta de casa logo após o desaparecimento de Rubens Paiva (papel de Selton Mello). Nesta imagem icônica, Veroca é a única que não está sorrindo, e isso tem um significado profundo que vale a pena explorar.

A foto foi tirada por um fotógrafo após uma entrevista de Eunice para a revista Manchete. Na ocasião, o fotógrafo sugeriu que a família adotasse uma expressão mais séria e triste, dada a situação, mas Eunice decidiu que todos deveriam sorrir. Essa escolha de Eunice revela muito sobre sua postura e resiliência diante de uma situação de extrema dificuldade.

O filme em questão é uma adaptação do livro “Ainda Estou Aqui” de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal, que oferece insights sobre os bastidores da foto em suas páginas. Marcelo explica que Veroca não sorriu na foto porque tinha conhecimento de aspectos mais sombrios da realidade que os outros membros da família desconheciam. Ela estava ciente de fatos perturbadores, como estar em Londres com exilados quando a casa foi invadida e seu pai foi preso.

A narrativa de Marcelo vai além, revelando o temor de Eunice com relação à segurança de sua irmã que estava retornando para casa e poderia ser presa no aeroporto. Esses elementos adicionam camadas de complexidade e drama à história, mostrando as profundas marcas deixadas pela ditadura e as incertezas que assolavam a família.

Ao descrever a volta de Eunice da Europa para tirar a foto da Manchete, Marcelo destaca a ausência de sorriso em seu rosto, em contraste com a expressão alegre que adotou após enfrentar dias de tortura e incertezas no DOI-CODI. Esse contraste entre a dor vivida e a resistência demonstrada pela família diante das adversidades é tocante e revelador.

Lançado em 2024, o filme “Ainda Estou Aqui” tem recebido reconhecimento e prêmios, incluindo indicações ao Oscar. A atuação de Fernanda Torres tem sido especialmente elogiada, destacando a profundidade e sensibilidade que ela trouxe para o papel de Eunice. O filme se destaca por ser uma reflexão sobre memória e resistência, temas que ressoam de forma poderosa com o público.

A cobertura do Oscar na CNN Brasil já está gerando expectativas, com o filme “Ainda Estou Aqui” recebendo três indicações. A repercussão positiva do filme evidencia a relevância de abordar questões históricas e sociais por meio da arte, permitindo que o público reflita e se sensibilize com as narrativas apresentadas.

Em suma, a história por trás da foto icônica de Eunice e seus filhos nos leva a refletir sobre a força da família diante da adversidade, a importância da memória e a necessidade de confrontar os traumas do passado para construir um futuro mais justo e humano. “Ainda Estou Aqui” não é apenas um filme, mas uma janela para a compreensão e empatia em relação às histórias que moldaram nossa sociedade.