Na manhã de quinta-feira, dia 19 de junho, o Brasil acordou com uma daquelas notícias que fazem a gente parar um pouco e pensar. Francisco Cuoco, um dos rostos mais emblemáticos da teledramaturgia nacional, faleceu aos 91 anos. A confirmação veio através da própria família, e foi divulgada pela Folha de S. Paulo. A causa exata da morte não foi revelada até o momento, mas sabe-se que o ator estava hospitalizado em São Paulo, sedado há quase três semanas.
Segundo informações próximas à família, Cuoco enfrentava problemas de saúde ligados à idade avançada, além de complicações causadas por uma infecção que teria surgido num ferimento — algo comum, infelizmente, entre pessoas de mais idade. Ele estava em tratamento há dias, mas o quadro se agravou. O ator deixa três filhos: Rodrigo, Diogo e Tatiana.
De estudante de Direito ao palco das novelas
A trajetória de Francisco Cuoco é daquelas que dariam uma novela inteira — talvez uma daquelas de época, com capítulos longos e cheios de reviravoltas. Nascido em São Paulo, no ano de 1933, ele chegou a iniciar o curso de Direito. Mas foi ali, nos corredores da Escola de Arte Dramática da USP, que ele descobriu sua verdadeira vocação. Não demorou muito pra trocar os livros de leis pelo palco.
Sua estreia na televisão aconteceu ainda nos anos 50, mais precisamente em 1957, pela antiga TV Tupi. Depois passou por emissoras como TV Rio, Excelsior e Record. Mas foi mesmo na Rede Globo, onde entrou em 1970, que sua imagem ficou gravada no imaginário popular.
Um rosto que atravessou gerações
Quem viveu os anos 80 e 90 provavelmente lembra de Francisco Cuoco em algum papel marcante. Seu talento passeava com facilidade entre galãs românticos e personagens mais densos. Esteve em tramas como O Clone, Malhação, Da Cor do Pecado e América. Foi, aliás, um dos poucos atores que conseguiram se manter relevantes por tantas décadas, mesmo com as transformações na TV e na forma de consumir entretenimento — ainda mais agora, com o avanço do streaming, que mudou completamente o jogo.
Não era raro vê-lo comentando, em entrevistas, sobre como a televisão havia se transformado. E ele parecia entender o tempo todo que era preciso acompanhar essas mudanças. Talvez seja isso que tenha feito dele um nome tão duradouro.
“Quero tocar o barco”
Pouco tempo antes de partir, Cuoco chegou a falar, em uma de suas últimas entrevistas, sobre como encarava sua trajetória. Disse que tinha orgulho do que construiu e das histórias que ajudou a contar. “Passaram-se anos e experiências foram acumuladas. Eu perdia tempo, mas depois obtinha resultado. Foi bom. Agora quero tocar o barco. O próximo resultado está à frente”, disse ele. Uma fala simples, mas que resume bem sua postura diante da vida: persistente, paciente, esperançoso.
O fim de um ciclo
A morte de Francisco Cuoco encerra um capítulo importante da nossa cultura popular. Ele fez parte de uma geração de artistas que ajudou a moldar a televisão brasileira como ela é. Numa época em que tudo é tão rápido e efêmero, a presença de figuras como Cuoco lembra a importância da construção lenta, da dedicação, da paixão pelo que se faz.
Não é exagero dizer que o Brasil perde não só um ator, mas um símbolo de uma era. E mesmo que ele não esteja mais entre nós, sua arte permanece — nas reprises, nos vídeos espalhados pela internet, e principalmente, na memória afetiva de milhões de brasileiros.