A notícia da trágica morte da campeã olímpica de Pequim 2008, Walewska Oliveira, abalou o mundo do esporte e trouxe à tona uma discussão profunda sobre a pressão social pela felicidade constante. Pouco mais de 15 dias antes de sua morte, Walewska fez uma postagem nas redes sociais que revela não apenas seus sentimentos, mas também lança luz sobre um conceito antigo, mas atemporal: a eudaimonia.
Em sua publicação, a ex-jogadora de vôlei refletiu sobre a pressão que a sociedade exerce sobre todos nós para estarmos sempre felizes. Ela observou que essa pressão pode ser extremamente assustadora, levando à culpa se alguém se sentir em desacordo com a aparente felicidade que todos estão projetando. É uma pressão que muitas pessoas sentem diariamente, alimentada pela ilusão de que a felicidade constante é o único objetivo digno de busca em nossas vidas.
No entanto, Walewska trouxe à tona uma palavra intrigante: “eudaimonia”. Este conceito, que tem raízes na filosofia grega antiga, difere da ideia moderna de felicidade superficial. A eudaimonia não se limita a sorrir o tempo todo ou a buscar a ausência de sofrimento; ao contrário, é uma busca por um sentido mais profundo de realização e bem-estar.
A palavra “eudaimonia” é composta por duas partes: “eu”, que significa “bom”, e “daimon”, que se refere a um espírito ou divindade interior. Portanto, pode ser interpretada como a busca pela excelência do espírito interior, pela realização da própria potencialidade. Na filosofia aristotélica, a eudaimonia é vista como o objetivo mais elevado da vida humana, a finalidade para a qual todos os nossos esforços devem convergir.
Walewska nos lembrou que a eudaimonia nos incentiva a valorizar a sensação de fazer a diferença em nosso dia a dia e na vida das pessoas ao nosso redor, sem a cruel necessidade de sorrir o tempo todo para demonstrar felicidade. Isso nos convida a reconhecer que a vida é feita de altos e baixos, de momentos de alegria e de tristeza, de sucessos e fracassos, e que tudo isso faz parte da jornada humana.
A busca pela eudaimonia não implica na negação das emoções negativas, mas na compreensão de que elas também têm um papel em nossa jornada de autodescoberta e crescimento pessoal. É a aceitação de que a vida é complexa, e a verdadeira felicidade não está na ausência de problemas, mas na nossa capacidade de lidar com eles de maneira saudável e construtiva.
A sociedade moderna, com suas pressões incessantes pela perfeição e pela felicidade constante, muitas vezes nos afasta desse ideal eudaimônico. As redes sociais, em particular, contribuem para a criação de uma fachada de felicidade, onde as pessoas compartilham apenas os momentos de alegria e sucesso, escondendo as dificuldades e desafios que enfrentam. Isso cria uma imagem distorcida da realidade, levando muitos a se sentirem inadequados e infelizes.
É importante lembrar que a eudaimonia não é uma busca egoísta pela felicidade individual, mas sim uma jornada de autodescoberta e crescimento que nos permite contribuir de maneira significativa para o bem-estar da sociedade como um todo. Ao aceitar nossas próprias imperfeições e lutar pela realização de nosso potencial interior, podemos impactar positivamente o mundo ao nosso redor.
A morte prematura de Walewska Oliveira nos lembra da importância de refletir sobre o verdadeiro significado da felicidade em nossas vidas. Em um mundo que muitas vezes nos pressiona a esconder nossos verdadeiros sentimentos e a buscar uma felicidade superficial, a eudaimonia nos convida a abraçar a complexidade da experiência humana e a buscar uma felicidade autêntica e duradoura.
Portanto, enquanto lamentamos a perda de uma campeã olímpica e uma pessoa que nos trouxe uma valiosa reflexão sobre a eudaimonia, podemos honrar sua memória buscando um equilíbrio entre a busca por uma felicidade autêntica e a aceitação das complexidades da vida. A eudaimonia nos lembra que a verdadeira realização está na jornada interior, na busca pelo desenvolvimento de nosso espírito e na contribuição para um mundo melhor. Que a memória de Walewska Oliveira nos inspire a trilhar esse caminho com autenticidade e compaixão.